Manutenção das tarifas de pedágio revolta motoristas no Vale do Taquari: promessa de redução vira frustração
A confirmação do governo do Estado de que o valor do pedágio será mantido em R$ 0,19 por quilômetro rodado nas rodovias do Bloco 2, que abrange trechos de Muçum, Encantado, Vespasiano Corrêa e outras cidades do Vale do Taquari, gerou forte reação na região. A decisão, anunciada na terça-feira, 28, em Porto Alegre, sepulta de vez a expectativa de redução das tarifas, contrariando entidades empresariais, prefeitos e o próprio Tribunal de Contas do Estado (TCE), que havia sugerido valor menor.
Com a manutenção da taxa, o motorista que trafegar entre Encantado e Lajeado, por exemplo, pagará cerca de R$ 6,68, valor considerado alto por lideranças locais diante da precariedade de muitos trechos ainda sem duplicação. O pedágio de Encantado, na ERS-130, será o mais caro do Vale, com cobrança de R$ 4,57, seguido por Estrela (R$ 3,75) e Muçum (R$ 3,13).
Entre Dois Lajeados e Arroio do Meio, o trajeto completo passará por quatro pórticos de cobrança. O primeiro, em Dois Lajeados (ERS-129), terá tarifa de R$ 1,72. Em Vespasiano Corrêa, o valor sobe para R$ 1,94; já em Muçum, o pedágio custará R$ 3,13. O percurso segue com o pórtico de Encantado, de R$ 4,57, e finaliza em Arroio do Meio, com cobrança de R$ 2,11. Somando as passagens, o motorista que fizer esse trecho completo deverá desembolsar R$ 13,47, valor que poderá aumentar até 30% após as obras previstas no contrato de concessão.
A decisão ocorre mesmo após manifestações da Federasul, que recomendou tarifa-base de R$ 0,16, e de técnicos do TCE, que sugeriram R$ 0,17. O governador Eduardo Leite justificou a manutenção alegando que o valor seria necessário para garantir a atratividade do edital a investidores, incluindo grupos estrangeiros. Na prática, o preço mais elevado serve de teto para o leilão previsto para março de 2026, em que vencerá o consórcio que apresentar o menor valor.
Além do impacto no bolso, a polêmica aumenta porque o novo sistema não prevê isenção para moradores locais, mesmo em trechos de curta distância e alto fluxo diário. Com o modelo free flow, em que o pedágio é cobrado eletronicamente por pórticos sem praças físicas, moradores de cidades vizinhas poderão pagar diversas tarifas num mesmo trajeto rotineiro.
O governo defende que o sistema trará mais fluidez e segurança, mas os críticos enxergam um modelo injusto. “Não há como falar em desenvolvimento regional cobrando tarifas acima da realidade econômica das famílias e das empresas”, comentou um prefeito da região, sob reserva.
As obras de duplicação e melhorias prometidas no contrato, que incluem a ERS-130 entre Arroio do Meio e Lajeado e a ERS-453 até Cruzeiro do Sul, só devem ser entregues a partir de 2030. Mesmo assim, o edital prevê aumento de até 30% nas tarifas após a conclusão das obras, um detalhe que acirra ainda mais o descontentamento.
No total, o pacote de concessão prevê R$ 4,6 bilhões em investimentos privados e R$ 1,5 bilhão de aporte do Estado. São 409 quilômetros de rodovias concedidas por 30 anos, com 24 pórticos de cobrança automática, oito deles no Vale do Taquari.
Enquanto o governo aposta no discurso da modernização, a população vê nas novas tarifas um peso que ameaça a mobilidade e a economia local. Em cidades como Muçum e Vespasiano Corrêa, onde muitos dependem das rodovias para trabalhar e estudar, a sensação é de que o “progresso” prometido virá acompanhado de uma conta alta demais.
Foto: Vitor Rosa / Secom / Governo do RS


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