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Avanço brasileiro traz esperança: novo medicamento pode devolver movimentos a pessoas com lesão medular

Pesquisadores brasileiros anunciaram avanços promissores no tratamento de lesões medulares com um medicamento experimental chamado polilaminina, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o laboratório Cristália. A substância, derivada da laminina, uma proteína presente na placenta humana que auxilia na sobrevivência e regeneração de neurônios, mostrou, em estudos iniciais, capacidade de restaurar movimentos em pessoas que haviam ficado tetraplégicas ou paraplégicas, reacendendo a esperança de recuperação funcional que antes parecia impossível.

O medicamento é aplicado diretamente na medula espinhal, preferencialmente nas primeiras 24 horas após o trauma, com o objetivo de interromper a degeneração celular, estimular a regeneração neural e restabelecer a comunicação entre cérebro e corpo. Além de atuar diretamente sobre os neurônios lesionados, a polilaminina oferece neuroproteção e pode incentivar a formação de novos axônios, fundamentais para a transmissão de impulsos elétricos.

Alguns casos já demonstram resultados significativos. Bruno Drummond de Freitas, de 31 anos, ficou tetraplégico após um acidente de trânsito em 2018 e recebeu a polilaminina cerca de 24 horas depois da fratura na coluna. Com a combinação do medicamento e fisioterapia intensiva, ele conseguiu recuperar movimentos sutis inicialmente e, posteriormente, voltou a andar. Hawanna Cruz Ribeiro, de 27 anos, que sofreu uma queda e ficou com perda de movimentos abaixo do pescoço, recebeu a substância três anos após o acidente e conseguiu recuperar parcialmente o controle do tronco, alguma sensibilidade em órgãos internos e autonomia funcional limitada.

Apesar do otimismo, os estudos permanecem em fase inicial e envolvem poucos participantes, entre seis e dez pacientes, sem validação em larga escala. A próxima etapa depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os ensaios clínicos de fase 1, que avaliarão segurança, dosagem e possíveis efeitos adversos em um número maior de pessoas. Até o momento, não foram registrados efeitos colaterais graves relacionados diretamente ao fármaco, embora pacientes ainda enfrentem complicações típicas de traumas, como dor e risco de infecções.

Especialistas destacam que os resultados parecem mais promissores quando a aplicação ocorre logo após o trauma, mas pacientes com lesões mais antigas também relatam ganhos, ainda que mais limitados. Caso os ensaios clínicos avancem com sucesso, a polilaminina pode oferecer alternativas concretas para pessoas com tetraplegia ou paraplegia, reduzindo a dependência de cadeiras de rodas, melhorando sensibilidade e controle de funções corporais, ampliando autonomia e qualidade de vida, e tornando-se uma opção mais acessível do que terapias com células-tronco ou implantes caros, devido à origem da proteína utilizada.

Hospitais como o Hospital das Clínicas da USP e a Santa Casa de São Paulo estão nos planos para conduzir as próximas fases de pesquisa. Estima-se que ainda possam se passar dois a três anos até que, caso aprovada, a polilaminina esteja disponível para uso clínico regular, dependendo do sucesso dos testes e da aprovação regulatória. O avanço representa uma perspectiva inédita de tratamento biológico direto sobre lesões da medula, apontando para um futuro em que funções motoras antes perdidas possam ser recuperadas de forma concreta.

Foto: Arquivo Pessoal

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